sábado, 26 de agosto de 2017

Bens nunca tive,  braços triplos ou quadruplos também não. Saio para qualquer coisa. Saio para fumar um cigarro e esqueço-me do tabaco. Compro um maço de tabaco desbloqueado pelas máquinas. Agora há umas máquinas de venda de tabaco que se auto-desbloqueiam quando lá inseres o teu cartão de cidadão. Acontece que não quero que saibam que ando a fumar. Dizem que faz mal... Eu não me importo com isso. Importo-me mais com a mania de quererem saber tudo, isso importa-me.

Saio para fumar um cigarro no Jardim do Torel e esqueço-me do tabaco. Desço. Subo. Saí de casa para fumar um cigarro no Jardim do Torel e quando lá chego esqueci-me do isqueiro. Desço. Subo novamente ao topo do jardim. 
Ao Sol, uma criança oferece-me um telemóvel. Acendo um cigarro. O isqueiro há-de acender. O fumo há-de sair. Hei-de:
a) comprar um cão;
b) passeá-lo ao Sol;
c) dar o telemóvel à mãe da criança.
d) acender um cigarro;
e) fumá-lo!

A mãe chama pela sua filha. Desenho num caderno a criança que me toca nos ténis amarelos "START", imitações rascas, mas bem mais divertidas que os originais All-Star. A mãe chama o nome da criança.
O Sol da Primavera está mudado. Está bem mais agressivo do que quando eu era pequeno. Agora queima como no pino do Verão. Ouvem-se obras que nunca mais acabam. Olho para o Sol mas os andaimes que se erguem na cidade ofuscam pelo brilho com que reflectem a luz. É meio da manhã de Sábado, dia de trabalho. Um operário estende-se pela relva. Descansa os braços que Deus lhe deu. Se tivesse mais um ou dois braços então era espectacular. Produzia o dobro em metade do tempo pelo mesmo valor. O valor de mercado.
São bonitos os namorados, metades de si mesmo, abençoados pelo Amor, passeando lado a lado. Possuem imenso valor de mercado. O Amor é um facilitador de trocas e comércio. Dois compram mais do que um. Duplicam o valor.
Ao Sol da Primavera vou:
a) agradecer às pessoas de boa-vontade;
b) dar graças pelo Amor que me rodeia;
c) queimar-me ao Sol.

- "Regresso a casa?" - pergunto ao íntimo do meu ser. Responde-me uma casa cheia de tetas a lactar. Tetas que balouçam pelo tecto a lactar dizem-me para regressar.